A atividade agropecuária, hoje, gera um grande paradoxo. No Brasil, por exemplo, apesar de em 2021 haver recorde de exportação, mais de 59,3% de brasileiros estão em situação de insegurança alimentar. Apesar de entrarem vultosos lucros em dólares para o país, eles só contribuem para o aumento da dívida interna, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida. Apesar de a maioria dos produtores respeitarem as porcentagens de APP e RL, a crise hídrica e as mudanças climáticas estão inviabilizando cada vez mais a própria atividade primária, saindo da condição de agricultor e pecuarista para assegurado agrícola. E, apesar de parecer um paradoxo natural, não o é. Não é imperativo da produção de alimentos deixar rastros de degeneração social, ambiental e econômica. É possível, e para ontem, que a pegada seja de regeneração.
Quando reconhecemos os avanços, não apenas as contradições do setor, somos capazes de aproveitar toda a estrutura e conhecimento construídos ao longo de décadas de incentivos, isenções, subsídios governamentais em vários setores do sistema agroalimentar – do crédito ao agrotóxico – para manter e aumentar a pujança dessa locomotiva nos trilhos do desenvolvimento. É possível e urgente trocar o combustível dessa máquina. Apenas mudando o paradigma produtivo para a agropecuária regenerativa sintrópica, invertemos o polo e mantemos a força. Isso traz esperança – e ainda há tempo – de não apenas retardar o famigerado “tipping point”, ou o ponto de não-retorno, como restaurar o equilíbrio do ciclo hidrológico, reverter as mudanças climáticas.
Para viabilizar a atividade agropecuária regenerativa sintrópica sem contar com um aparato estatal que nos apoie com os incentivos supracitados, precisamos desenvolver designs eficazes do ponto de vista fitotécnico, e tecnologia de implantação, manejo e colheita atrelada à eles. Nesta última tarefa, a BraTelles se dedica a realizar com profissionalismo e criatividade, contando com colaboração interinstitucional e ação em rede. A BraTelles nasce com o propósito de sermos parceiros das agricultoras e agricultores na regeneração da agropecuária. Por definição, somos um negócio social (social business) pois impactamos positiva e diretamente o clima, o meio ambiente, a sociedade e a economia. Ao produzirmos ferramentas, implementos e maquinários, viabilizamos ainda mais a transição paradigmática do modo de produzir e consumir alimentos, e somos capazes de impulsionar a regeneração de todo sistema agroalimentar, para que ele seja carbono-positivo. Seus fundadores são Mariana Telles Rocha, Engenheira Agrônoma, Mestre em Agricultura Orgânica e Especialista em Agricultura Sintrópica, e Alisson Brabo, Engenheiro Mecânico, MBA em Gestão de Negócios e Especialista em Projetos e Desenvolvimento.
Para perseguir esse objetivo com agilidade, é necessário estarmos em busca de aprimoramento empresarial constante. A BraTelles se aplicou e foi selecionada para ser incubada no Biopark, um Parque Tecnológico Privado, em Toledo-PR. Aqui, junto aos nossos parceiros e clientes, vislumbramos demonstrar na prática que é possível fazer agricultura e pecuária regenerativa no agora.
A ferramenta Katrina utilizada para partir ao meio o pseudocaule da bananeira, prática comum na agricultura regenerativa, traz inúmeros benefícios fitossanitários e para saúde do solo, substitui o facão e agiliza a operação;
E a Nazaré, ferramenta para tirar mudas de bananeira – substitui o cavador – aumenta o rendimento da operação, ao mesmo tempo que mantém o rizoma sem deformações.
Sob encomenda de clientes, desenvolvemos a terceira ferramenta, a Valentina, que substitui o enxadão, e subsola o solo sem revolver as camadas, preservando a microbiologia no solo e por consequência suas características físico-químicas.
Planejamos iniciar com o simples (ferramentas) e caminhar para o complexo, assim como faz a vida em todos os lugares, e assim executamos. Nossos primeiros passos foram dados em março de 2021, impactamos a vida de mais de 45 famílias, e no atual momento da empresa, estamos desenvolvendo um implemento para agricultura empresarial, que viabilize o plantio de grãos regenerativos sintrópicos, e outro para agricultura de montanha, que viabilize a cafeicultura regenerativa sintrópica.
Nosso propósito sempre facilitar a vida de todas as pessoas que desejam produzir alimentos regenerativos sintrópicos em seu contexto, sejam neorrurais, povos tradicionais, agricultores familiares, ou agricultores de larga escala. Para todas as particularidades, existem tecnologias a serem desenvolvidas pela BraTelles para otimizar os manejos, aumentar o rendimento das operações, barateando o custo da atividade, e gerando preços mais acessíveis na ponta, para os consumidores.
Os sistemas regenerativos sintrópicos são capazes de atenuar localmente, deixar os sistemas agrícolas mais resilientes a eventos extremos do clima, e coletiva e continentalmente são capazes de reverter as mudanças climáticas. Um dos efeitos positivos da escala continental é o reequilíbrio do ciclo hidrológico, através da manutenção e recuperação do fenômeno dos rios voadores, responsáveis por abastecer as chuvas do centro oeste, sudeste e sul do Brasil, além dos países vizinhos, segundo o pesquisador Antonio Donato Nobre. Só alcançaremos o nível continental se for viável economicamente, e mais praticável de maneira extensiva, por isso a importância de desenvolver implementos e maquinários.
Empiricamente, é nítida a diferença entre um cultivo sintrópico com os manejos em dia (e são muitos), com um cultivo mal manejado. Muitos são os motivos pelos quais os agricultores e agricultoras acabam não manejando seus sistemas: tempo, mão de obra, dúvidas sobre a melhor forma, melhor época, o que podar, o que deixar, como organizar no solo, como consorciar as espécies. Um sistema bem manejado é vigoroso, as plantas estão saudáveis, sem ataques de pragas e doenças, sem estresse hídrico, o solo cheira como o de mata, fica cada vez melhor estruturado, mais escuro, cheio de atividade biológica que fixa nitrogênio, disponibiliza fósforo, cicla potássio.
“A poda é o grande motor do incremento de carbono, seja pelo acréscimo de carbono no solo, a partir da fitomassa depositada, pela rebrota dos galhos e (ou) troncos podados ou pelo aumento de luminosidade nos diferentes estratos (Steenbock, 2013)” O mesmo autor estimou de forma preliminar que seria possível estimar que as agroflorestas, na forma que são manejadas na Cooperafloresta, apresentaram incremento anual de 6,6 Mg C ha-1 ano-1. Corroborando com este estudo, Froufe et al (2011) avaliou o estoque total de carbono no solo, na serapilheira, biomassa arbórea e biomassa herbácea das agroflorestas de 4 a 16 anos, áreas da Cooperafloresta e encontrou um total de 75,37 ton de C/ha. Se temos 150 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil, podemos recuperá-los de maneira rentável e altamente produtiva, a ainda potencialmente estocar 10006 ton C/ha/ano. Isso é uma média da Mata Atlântica, sendo menor estoque para Cerrado e Caatinga, e maior para a Amazônia.